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RESULTADO da seleção das propostas inscritas: 4º Concurso Estudantil de Dramaturgia do Conservatório de Tatuí

O Concurso Estudantil de Dramaturgia do Conservatório de Tatuí consolida-se como um espaço de incentivo à criação, reflexão e circulação de textos teatrais contemporâneos. A cada edição, observamos com entusiasmo o crescimento no número de inscrições, que vêm acompanhadas de propostas cada vez mais diversas, inventivas e desafiadoras. Nesta quarta edição, recebemos 52 textos inscritos, sendo 39 oriundos de cidades do interior, litoral e região metropolitana do estado de São Paulo, e 13 da capital.

A variedade de formatos, linguagens e perspectivas presentes nas inscrições reafirma o desejo pulsante de experimentar novas formas de escrita para a cena. É especialmente significativo ver tantas geografias distintas em movimento criativo, revelando que há uma rede potente de jovens artistas em formação espalhada por todo o estado.

Selecionar os textos premiados é sempre um trabalho cuidadoso e complexo, dado o nível de elaboração das propostas e a pluralidade de vozes que elas representam. É esse encontro entre diferentes imaginários, experiências e escritas que justifica e reforça a importância de mantermos esse concurso vivo. Seguimos apostando no teatro como lugar de escuta, invenção e projeção de futuros.

Nesta edição, as cinco dramaturgias selecionadas receberão um prêmio no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais). Além disso, os textos escolhidos — incluindo os que receberem menção honrosa — serão publicados na Edição Extra nº 04 da Buli – Revista de Artes Cênicas do Conservatório de Tatuí, com lançamento previsto para 2025.

Apresentamos, a seguir, os textos selecionados nesta edição:

 SELECIONADOS

 

Chá da oito – Nayara Nascimento, Nicolle de Alencar, Paula Luvizutti, Sabrina Luísa, Sabrina Rocha, Sabrina Uzeloto e Triz Rocha. (São Paulo – SP)

 

Essa “peça sátira feminista” é criação coletiva de 7 atrizes e foi inspirada em escritos de bell hooks. Na trama, 8 amigas se encontram para um chá, durante o qual compartilham histórias marcadas por relacionamentos abusivos, violências de gênero, rivalidades, cumplicidades, empoderamento.

Tábata Makowski

 

Coletivo do Chá é um grupo teatral criado em 2023, por estudantes do Bacharelado em Artes Cênicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que se uniu devido ao interesse em comum em pesquisar as poéticas da cena feminista, em especial as relações de gênero e raça e as problemáticas da rivalidade feminina por meio da comédia satírica.

 

Desenlear Nós – Lua Leal (São Paulo – SP)

Esse texto se destaca pelo núcleo central afro-centrado no cabelo crespo, pela abordagem das estéticas negras femininas e da ancestralidade africana trançada em nós. A dramaturgia trama conflitos sobre subjetividades vilipendiadas e sua resiliência no contexto do país onde ainda vive a maior população negra fora do continente africano, mais de 100 milhões de afro-brasileiros, entretanto, paradoxalmente, ainda vigoram padrões eurocêntricos excludentes.

Cristiane Sobral

 

Lua Leal é atriz, diretora e dramaturga, nascida em Heliópolis, periferia da capital paulista.  Estudante do núcleo de direção teatral da Escola Livre de Santo André e do curso de canto da Etec de Artes de São Paulo. Formada em Teatro pela Faculdade de Artes Célia Helena. Transforma as suas histórias em escrevivência, friccionando novos caminhos e trajetórias.

 

  

 

Entremacacos (força que vem de Muximba) – Henrique Santos (Campinas – SP)

Uma dramaturgia vibrante e de grande contributo à cultura nacional com traçados tecidos por subjetividades que vivem afetos e desafetos em um enredo vigoroso de conflitos que confronta o racismo e apresenta um retrato do jeito de ser e de viver da gente negra brasileira..

Cristiane Sobral

 

Henrique Santos é ator e dramaturgo, graduando em Artes Cênicas na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). É um apaixonado por seu ofício teatral, e pelas artes como um todo e tudo o que ela possibilita que ele seja. Em 2024, escreveu, produziu, dirigiu e atuou na cena curta “DIVA DAS DIVAS”, que esteve presente no Festival do Instituto de Artes da UNICAMP,  mesmo ano em que entrou para o Coletivo Negro Drama, no qual desenvolve um trabalho como ator, produtor e dramaturgo do espetáculo “ENTREMACACOS: Força que vem de muximba” que já foi contemplado pelos editais universitários Aluno Artista e PROEC da UNICAMP.

  

 

Me desculpe por ter estragado o jantar – Iça Simeão (Santo André – SP)

Um passeio por uma sala de jantar e membros familiares improváveis, com direito a guia turístico que apresenta detalhes imperceptíveis que escapam do olhar do público. Narrativa que tateia aspectos do Teatro do Absurdo com doses de bom humor, reflexões subjetivas e diálogos concentrados na simpatia. Na beira da palavra, uma investigadora das minúcias da vida, ora lúcida, ora esburacada. Um convite à quebra da lógica e um mergulho no real maravilhoso.

Jhonny Salaberg

Iça Simeão é estudante de Dramaturgia na SP Escola de Teatro e formada em Artes Cênicas pelo Instituto de Artes da Unesp (2024). Estudou Dança Contemporânea da Escola Livre de Dança de Santo André, sua cidade natal. Entusiasta da música e da poesia, publica seus textos na newsletter “Novelos & Novelas”.

 

 TRANSVERSÕES: UMA PROSA EM TRAVA E VERSO – de Rebecca Lopes (Sorocaba – SP)

 

“Se tiver que ser um objeto, que seja um objeto que grita.” – essa citação está na rubrica que dá início a essa dramaturgia, composta por histórias de uma criança/jovem/mulher travesti. Histórias que gritam sonhos, desejos, preconceitos, violências, amores, superações, transformações.

 

Tábata Makowski

 

 Rebecca Lopes é estudante do Curso Técnico em Teatro do Senac, de Sorocaba. Faz teatro amador desde 1991, participando de várias peças e cursos de atuação. Fez drag queen, dança e dublagem no final dos anos 90 e se apresentou em diversas casas de show da região.

 

 

MENÇÕES HONROSAS

 

Deságua – Victor Lima (Guarulhos – SP)

A peça mergulha nas camadas sensíveis de uma relação passada entre dois homens, atravessada por questões de raça, silêncio e afetividade. Com cenas que alternam dança, música, falas fragmentadas e imagens simbólicas, o texto constrói uma narrativa delicada e potente sobre perdas, reencontros e ancestralidade. O corpo em cena carrega lembranças, tensões e desejos que não cessam de ecoar.

Tadeu Renato

 

 

Victor Lima é artista-pesquisador da cena, bacharel em Artes Cênicas/UNICAMP. Participou como ator, diretor, dramaturgo e educador em montagens com circulação nacional (Campinas; São Paulo) e internacional (Espanha; Noruega). Realizou três Iniciações Científicas financiadas pela FAPESP, nas áreas do teatro negro, dança contemporânea e dramaturgia do movimento.

 

 

Disritmia – Vitória Ricardo (São Paulo)

O texto mergulha em um clima de crescente apreensão. A trama acompanha um coletivo de ativistas à frente de um aplicativo para registrar denúncias contra a violência policial, confrontados pelo súbito desaparecimento de Mar, uma figura essencial em sua organização. A inclusão de personagens não-binários, explicitada na nota inicial, sinaliza uma intenção da autora de confrontar as estruturas sociais de gênero e raça, permeando a narrativa com discussões contemporâneas sobre identidade e poder.

Dalila Ribeiro

 

Vitória Ricardo é estudante de Artes Cênicas na Universidade de São Paulo. Nascida em Ribeirão Preto e residente em São Paulo há 2 anos. Formada em técnico em Teatro pelo SENAC Ribeirão Preto, em 2019, cursando atualmente o técnico em Dramaturgia pela SP Escola de Teatro. Uma pessoa preta não-binária que atua também como arte-educador em cursinho popular voltado para prova de habilidades da FUVEST.

  

 

Hefesto está triste (e com razão) – Aoki Ferreira (São Bernardo do Campo)

A dramaturgia cruza mitologia grega, musical e crítica social numa composição cênica pulsante e inventiva. A forma se apoia em gêneros musicais diversos para caracterizar os deuses, com destaque para a teatralidade rítmica. No conteúdo, dá protagonismo a uma figura rejeitada, ressignificando-a com camadas emocionais e políticas.

Tadeu Renato

 

Aoki Ferreira é ator, dramaturgo, estudante de Artes Cênicas na Unicamp. Entre 2018 e 2021, fez curso livre de teatro, participando da montagem de cinco espetáculos de teatro musical. Na Universidade, foi dramaturgo da peça Essa Não é uma Receita de Bolo; atuou e escreveu as cenas Ator Amarelo no Brasil e Howard Ashman. Participou da construção dramatúrgica e atuou nos espetáculos Circo Brasil e Descarrilho.

 

O que aconteceu na Linha Vermelha – Ana Bastos (São Paulo)

Um retrato real e cruel da cidade São Paulo através do sistema de transporte metroviário e seus índices de pessoas levadas ao suicídio. O texto convoca um olhar a um cotidiano esmagador, aos recortes sociais atribuídos à metrópole e a corrida à cavalos do capitalismo em direção ao adoecimento. Com quebras épicas em uma estrutura dramática, as personagens compartilham com o público a dolorosa locomoção na maior cidade da América do Sul.

Jhonny Salaberg

 

Ana Bastos é atriz e escritora, criada em Americana, no interior do estado de São Paulo. Interessada pela escrita e pelo teatro desde os 12 anos, se mudou para a capital em 2022, onde se formou como atriz pela Oficina de Atores Nilton Travesso. Atualmente é estudante de dramaturgia pela SP Escola de Teatro e pesquisa a cidade de São Paulo e seus atravessamentos.

 

COMISSÃO DE SELEÇÃO

Integram a Comissão de Seleção do 4º Concurso Estudantil de Dramaturgia do Conservatório de Tatuí: Cristiane Sobral, Dalila Ribeiro, Jhonny Salaberg, Tabata Makowski, e Tadeu Renato. Coordenação de Antonio Salvador e Tadeu Renato.

 


Cristiane Sobral
é carioca e vive em Brasília. Mãe, ativista negra, professora, escritora, dramaturga, atriz e mestre em teatro. Tem 13 livros publicados, em vários gêneros. Foi finalista do prêmio Jabuti em 2022, com o livro Pretos em Contos.

 

 

 

Dalila Ribeiro atua como docente no Conservatório de Tatuí, onde exerce a função de professora nos Curso de Iniciação teatral para Crianças e Curso de Teatro para Adolescentes, e do Curso de Educação Musical para crianças, ministrando a disciplina de Jogos Teatrais. Sua prática pedagógica concentra-se na transmissão de conhecimentos e no desenvolvimento de habilidades performativas nos referidos domínios. Atriz e pesquisadora do Grupo Asas.

 

Jhonny Salaberg é ator e dramaturgo. Cofundador do grupo de teatro negro O Bonde/SP. Pesquisa e realiza trabalhos que unem teatro e discussões sobre o contexto étnico-racial no Brasil. Contém cerca dez peças encenadas em parceria com companhias de teatro do Estado de São Paulo. Suas criações são adotadas como referência e material de estudo em universidades Estaduais/Federais, Escolas de Teatro no Brasil, bem como estudos de Teatro Negro na Noruega através da revista Norsk Shakespeare-og Teatertidsskrift e Dramaturgia Afro-diaspórica na França através da Camargo Foundation.

 

Tábata Makowski é atriz, dramaturga e professora de teatro. Formada em Letras e Cinema, tem especialização em Dramaturgia. Alguns de seus textos foram premiados ou selecionados: Jogo das Possibilidades (Patios del Recreo 2025/Argentina); A Aviadora (menção honrosa no 3º Prêmio Nova Dramaturgia de Autoria Feminina/Portugal); É tudo Família! (APCA 2018, Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Juvenil); DIA (1º lugar no Prêmio Heleny Guariba 2010/11).

 

 

Tadeu Renato é mestre em Letras na UNIFESP. Graduado em Filosofia e Artes Visuais. Formado em Dramaturgia na SP Escola de Teatro. É autor de 20 textos encenados por grupos da capital paulista e do interior do Estado. Tem 04 livros publicados, entre poesia, prosa e dramaturgia, entre eles Licantropia (Selo Cesura) e A pausa, o pouso (Editora Clóe). É professor de Dramaturgia e Teoria no Conservatório de Tatuí.

 

Antonio Salvador é sul-mato-grossense, ator e pesquisador de teatro. É mestre e doutorando em Artes Cênicas na ECA-USP. Lecionou na Escola Livre de Teatro de Santo André, Núcleo Experimental de Artes Cênicas do Sesi-SP e PUC-SP. Como ator, integrou a Cia Teatro Balagan.Atuou ainda em Um panorama visto da ponte, direção de Zé Henrique de Paula; Trilogia Abnegação, Grupo Tablado de Arruar e Cassandra, direção de João das Neves. Recebeu o Prêmio APCA, pela atuação em Recusa, também indicado ao Prêmio Shell de Teatro. Desde 2021 é Gerente Artísitico e Pedagógico de Artes Cênicas do Conservatório de Tatuí.